TOM MELLO Erro pode virar efeito. Pintura é isso
Seu pai era um ourives e, na sua oficina, em Teresina-PI, recuperava e fabricava joias, a partir de antigas peças ou da moldagem do ouro em pó. O garoto Tom admirava tudo aquilo e, hoje, tem certeza que seu pai era um verdadeiro alquimista.
A habilidade de seu pai despertou nele a tendência artística e, aos sete anos, já reproduzia os desenhos dos gibis da Turma da Mônica e do Walt Disney, de onde lhe veio o gosto pelas cores, que ele levou tão a sério que já recebia encomendas de trabalhos.
Seu maior desafio, nessa época, foi reproduzir a capa de um disco de Bob Marley, numa camiseta, tarefa que ele desempenhou a contento, deixando o cliente muito satisfeito. Aos 13 anos, seu pai o integrou à ourivesaria, onde novos desafios o esperavam.
Uma cliente encomendara um anel, com um desenho ousado, e seu pai respondeu que não conseguiria fazê-lo, mas o garoto Tom, que ouvira a conversa, disse ao pai que faria, e fez, a peça com perfeição. A partir daí, ele ganhou a confiança do pai e da clientela. Choveu pedidos na oficina. Só de anéis, foram mais de cem.
Mas, o garoto deitava os olhos para além do Piauí e o convite de um tio para estudar em Brasília, veio a calhar. Aqui, ele começou a trabalhar numa metalúrgica, que fabricava caixa para computadores para a Modatta. Depois de um ano, foi servir ao Exército e, logo após, ingressou no Banco do Brasil, onde passou dois anos.
Porém, nem a rotina bancária, nem o salário o satisfizeram. E ele decidiu que o mundo da arte é que era o seu caminho. Tom e sua primeira companheira, Ângela, então criaram uma loja muito especial, no Serra Shopping, a Arte Serrana, que além de moda, decoração e móveis rústicos, comercializava suas peças pintadas na técnica batik e, às quintas e sábados, promovia saraus de música, poesia e performances.
Nesta rotina, ele aprendeu a cortar, costurar e pintar peças que vendia na loja. A classe artística acorreu à loja, que se tornou referência e ele acabou eleito presidente da Associação dos Lojistas. Um reconhecimento ao seu trabalho.
Mas, Tom continuou suas produções artísticas e eventos, coisas que ele faz até hoje, além de pintar telas e dar aulas de pintura artística, numa clínica de recuperação. Está preparando, inclusive, uma exposição com o trabalho dos alunos, possivelmente em outubro, no hall da Câmara Legislativa.
Ele planeja, também, a segunda edição do desfile, realizado há dois anos, na Estação 112 do Metrô, também, com o intuito de resgatar a saúde mental dos alunos.
Tom é um autodidata e, como todo modernista, seu estilo é ousado e difícil de definir. Ele garante que seu traço, após 25 anos de estrada, já é identificado por quem o conhece e sintetiza tudo o que ele vivenciou. “Minha técnica, apesar de universal, é única”, esclarece.
O artista piauiense/sobradinhense, no entanto, diz não se identificar com nenhum grande nome da pintura nacional, apesar de citar Tarsila do Amaral e seu Abaporu, como um momento “fantástico”. “A interpretação que ela fez do feminismo é uma referência muito forte para época dela e para a arte nacional”, observa.
Ele diz que, no seu trabalho, mistura várias técnicas e materiais, sem se ater a influências, mas buscando a autenticidade e não cópias. “Eu busco transpor o meu universo interior e o universal para a tela”, define.
Nesta oficina digital, que ele ministra, nesta segunda parte do Projeto ARTE NA PRAÇA III, Tom Mello sugere que a fuga que as pessoas buscam, jogando no celular, pode ser compensada, mais proveitosamente, pela arte. Experiência que vem dos seus alunos, que o agradecem pela mudança de vida ele lhes proporcionou com as aulas.
“O primeiro processo é perder o medo. Um traço errado não estraga a tela. O erro pode virar efeito. Pintura é isso”, ensina Tom Mello.
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